sexta-feira, 9 de novembro de 2018

O Homem é um ser biocultural


Dizer que o homem é um ser biocultural não é simplesmente justapor estes dois termos, mas mostrar que eles se coproduzem e que desembocam nesta dupla proposição: todo o ato humano é biocultural (comer, dormir, defecar, acasalar, cantar, dançar, pensar ou meditar); todo o ato humano é, ao mesmo tempo, totalmente biológico e totalmente cultural. Comecemos pelo primeiro ponto: o homem é um ser totalmente biológico. Antes de mais é preciso ver que todos os traços propriamente humanos derivam de traços específicos dos primatas ou dos mamíferos que se desenvolvem e se tornam permanentes. Neste sentido, o homem é um superprimata: traços que eram esporádicos ou provisórios no primata - o bipedismo, a utilização de utensílios e mesmo uma certa forma de curiosidade, de inteligência, de consciência de si, tornaram-se sistemáticos no homem (...). Falta mostrar agora que o homem é totalmente cultural. Antes de mais, é preciso recordar que qualquer ato é totalmente culturizado: comer, dormir e mesmo sorrir ou chorar. Sabemos bem, por exemplo, que o sorriso do japonês não é igual à gargalhada do americano! E a coisa mais espantosa aqui é que os atos que são mais biológicos são precisamente os que são os mais culturais: nascer, morrer, casar, (...). 
Edgar Morin, A Unidade do Homem

Sem comentários:

Enviar um comentário